terça-feira, 11 de outubro de 2011
O DIÁRIO DE UM POETEIRO OU A FLOR QUE DESANDOU A CHORAR
CONTATO: JOSÉ DE SOUZA
TRAVESSA SERVIDÃO LESTE, 10 – GÁVEA
RIO DE JANEIRO – RJ – CEP: 22451-520
Tel.: 021-97058688
E-mail: jose72rj@hotmail.com
O DIÁRIO DE UM POETEIRO
( OU A FLOR QUE DESANDOU A CHORAR )
POR
JOSÉ DE SOUZA
DADOS BIBLIOGRÁFICOS
Nasci em 16 de abril de 1972 no Rio de Janeiro. Filho de retirantes nordestinos, aprendi desde cedo que a vida é a arte de permanecer na luta, mesmo perdendo. Meu pai aposentou-se como porteiro e minha mãe sempre foi dona de casa. Os fatos marcantes de minha vida deram-se no Condomínio do Edifício José Linhares, no Leblon. Foi lá que o germe do poeta aflorou em mim. Foi lá também que passei toda minha adolescência e parte da fase adulta. Diferenças sociais, amores secretos, lida diária, sonhos, frustrações e estudos somaram-se a outros fatores para formar minha atual cosmovisão.
Após muita dificuldade, entrei para Filosofia na UERJ em 1994. Com o curso, minha poesia ganhou força e refinamento. Hoje, me considerado não um poeta, mas um “poeteiro”. “Poeteiro” é aquele que brinca com as palavras de uma maneira séria. Na verdade, é aquele que propicia o encontro inusitado das palavras. Gosto de fazer com que as palavras se encontrem de uma maneira “nova” e inusitada. A artista circense das palavras é minha sina. Acredito que é isso que tenho para oferecer ao mundo, minha poesia. E é ela que vos ofereço agora...
“Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida
À sombra de uma cruz, e escrevam nela
- Foi poeta – sonhou – e amou na vida.”
Álvares de Azevedo
Prefácio
O pássaro voa
E o galo canta cedo
Eu?
Eu escrevo!
O cavalo trota
E o bebê pede peito
Eu?
Eu escrevo!
A carola reza
E o cofre tem segredo
Eu?
Eu escrevo!
As formigas labutam;
Não tem jeito
Eu?
Eu escrevo!
RJ, janeiro de 1995
A rosa do Cairo
a mosca na sopa
a sopa no prato
o prato na mesa
a mesa no palco
o palco na tela
a tela no casco
o casco na sela
a sela no Cairo
o Cairo na rosa
a rosa no facho
o facho na copa
a copa no jarro
o jarro na arca
a arca no bolso
o bolso na seta
a seta no rosto
o rosto na capa
a capa no barco
o barco na peça
a peça no barro
o barro na fuga
a fuga no leito
o leito na mira
a mira no peito
o peito na sopa
a sopa no prato
o prato na mesa
a mesa no palco
RJ, janeiro de 1998
NÃO HÁ ESCAPATÓRIA
a noite nunca acaba
e a semana se foi então
não há escapatória
não há sequer perdão
a noite nunca acaba
e a filosofia é uma prisão
não há escapatória
não há sequer perdão
como não querer mudar?
como mudar a razão?
não há escapatória
não há sequer perdão
já conheci a mudança
e também a humilhação
não há escapatória
não há sequer perdão
RJ, janeiro de 1998
AH, OS TEUS SEIOS!
AH, OS TEUS SEIOS!
AH, OS TEUS SEIOS!
SÃO TÃO FORMOSOS!
SÃO TÃO TRIGUEIROS!
AH, OS TEUS SEIOS!
AH, OS TEUS SEIOS!
SÃO TÃO FORMOSOS!
SÃO TÃO MINEIROS!
AH, OS TEUS SEIOS!
AH, OS TEUS SEIOS!
SÃO TÃO FORMOSOS!
SÃO TÃO TRIGUEIROS!
AH, OS TEUS SEIOS!
AH, OS TEUS SEIOS!
SÃO TÃO FORMOSOS!
SÃO TÃO MINEIROS!
RJ, agosto de1998
RESTOS DE NOITES SEM FIM (*)
Outro te terá
E te possuirá
Noites inteiras
Noites sem fim!...
Você o amará
Noites inteiras
Noites intensas?
( sim, decerto que sim! )
Serão noites
Seguidas de noites
Noites ligadas
Noites entre si!
Restos de noites
Que você não mais
Nem ao menos
Se lembrará de mim!
E eu
Perdido em sombras
Buscando, assim, a mim?
( sim, decerto que sim! )
Noites inteiras?
Noites repletas?
Noites entregues a si?
( sim, sem ínterim )
Você estará feliz?
Você estará contente?
Você saberá dizer?
( sim, decerto que sim! )
Noites inteiras?
Noites repletas?
Noites ente si?
( sim, noites sem fim! )
Ó, sim, serão restos
De noites sem fim
Noites inteiras
Noites sem mim...
Restos de noites
Noites repletas
Noites – o que resta?-
Noites sem fim!
Mas você, meu amor
Você o amará
Noites inteiras
Noites sem fim?
E serão noites inteiras
Noites intensas
Noites entre si?
( sim, noites sem fim! )
Você estará feliz?
Você se lembrará?
Você saberá dizer?
( sim, decerto que sim! )
Noites inteiras?
Noites repletas?
Noites entre si?
( sim, restos de noites sem fim! )
(*)Poesia inspirada no sucesso “All out of Love” do AIR SUPPLY
RJ, março de 1998
NATUREZA CONSTATADA
muitas coisas acontecem pela razão do querer,
embora muitas coisas aconteçam alheias à razão
há quem diga que as coisas acontecem por acontecer,
e outras que dizem que elas acontecem pela paixão
se o acontecer é de natureza constatada,
o que dizer das coisas das coisas que acontecem sem querer?
há quem diga que o acontecer não acontece,
e que a vontade tudo pode conceber
se se de fato as coisas acontecem,
o que dizer do desejo que faz acontecer?
há quem diga que o acontecer não acontece,
e que a vontade tudo pode conceber
mas se se discute pela razão do que acontece,
nada do que acontece para de acontecer
por isso, devemos zelar pelo que sempre acontece,
pois se não acontece, não se pode conceber
RJ, maio de 1998
MARES BRAVIOS
Mil moedas por uma garrafa de rum!
Outras mil por um barril de flores!
Irei ver a bela e virgem Beatriz!
E ela dar-me-á de seus amores!
Já naveguei pelos sete mares do globo,
Travando duelos pelos mares bravios!
Já naveguei e digo a todos:
- Travo duelos e afundo navios!
Sim, já naveguei e digo a todos
Que tenho tesouros qual mesmo um rei!
Batalhas! Batalhas! Tesouros! Tesouros!
Batalhas! Batalhas! Hey, hey! Hey, hey!
Já naveguei e longo é o tempo
Que feitos me dão pelos mares bravios!
Canhões! Canhões! Brasões! Brasões!
Canhões! Canhões! Navios! Navios!
Mas, ó beberrões e amigos presentes
Que bebem comigo nesta hora feliz!
Lanço a vós meu desejo de sorte
Que agora é hora de ver Beatriz!
Sim, bebam amigos com toda vontade
Que amanhã travaremos duelos bravios!
Batalhas! Batalhas! Tesouros! Tesouros!
Batalhas! Batalhas! Navios! Navios!
Mas deixe-me ir ao encontro da virgem
Que bela espera por esse pirata!
Agora é hora de ver Beatriz
E cobri-la inteira de ouro e prata!
Sim, bebam amigos com toda vontade
Que amanhã travaremos duelos bravios!
Batalhas! Batalhas! Tesouros! Tesouros!
Batalhas! Batalhas! Navios! Navios!
RJ, junho de 1998
AMANHÃ E DEPOIS
OUTROS AMORES
MAIORES AMORES
A VIDA DARÁ
A VIDA DARÁ
HOJE E AMANHÃ
AMANHÃ E DEPOIS
NINGUÉM MORRERÁ
NINGUÉM MORRERÁ
EU VOU VIVER
VOCÊ VAI VIVER
NÓS NOS VEREMOS
AMANHÃ E DEPOIS
OUTROS AMORES
MAIORES AMORES
A VIDA AMANHÃ
DARÁ PRA NÓS DOIS
RJ, junho de 1998
É INCRÍVEL!
É LINDO!
É LINDO!
É INCRÍVEL!
É MARAVILHOSO!
ELA É COMUM!
ELA É TÃO COMUM!
ELA É DE CARNE E OSSO!
É LINDO!
É LINDO!
É INCRÍVEL!
É MARAVILHOSO!
ELA É COMUM!
ELA É TÃO COMUM!
ELA É DE CARNE E OSSO!
RJ, junho de 1998
SONHO HODIERNO
que seja de amor,
lindo e florido
o sonho que a dama
tenha comigo!
mas se não for do jeito que espero,
que seja ao menos
um sonho hodierno:
leão e leoa na hora do sexo!
RJ, fevereiro de 1998
POCILGAS DO CENTRO
AS POCILGAS
PROSTITUÍDAS
DA BAIXADA
E DO CENTRO
SÃO POCILGAS
DIFERENTES
DAS DO LEBLON
E DA GÁVEA
MAS AS MENINAS
PROSTITUÍDAS
DE BELEZA
E DE SORTE
SÃO AS MESMAS
MENINAS
PROSTITUÍDAS
A TEMPOS...
SEJA NA BAIXADA
NO LEBLON
NA GÁVEA
OU NO CENTRO
RJ, junho de 1998
O NASCIMENTO DO POETA
O CANÁRIO CANTOU
A PENA ESCREVEU
A NEGRA FORÇOU
O POETA NASCEU
NASCEU CABEÇUDO
DESNUDO E FAMINTO
ATRÁS DA CHUPETA
ACHOU FOI O DEDO
NO MEIO DA BOCA
BANGUELA DE TERÇA
O CANÁRIO CANTOU
E DEIXOU DE CANTAR
AO VER A CRIANÇA
CHORANDO DE FOME
A PENA ESCREVEU:
“NASCEU O POETA
NA TARDE DE TERÇA
DE ANTES DE ONTEM”
A NEGRA FORÇOU
E A FAVELA GRITOU
AO VER A CRIANÇA
COM TANTA CABEÇA
O POETA NASCEU
E LOGO TROUXERAM
LEITE, AGASALHO
PAPEL E CANETA
RJ, junho de 1998
A ROSA
AGONIA
AGONIZA
E
MORRE
DEPOIS
QUE
CRESCE
FLORESCE
E
AMA
TAL
ERA
O
SUPLÍCIO
DA
ROSA
QUE
POLUÍDA
E
QUEIXOSA
MORRIA
NA
LAMA
RJ, maio de 1998
LEBLON
Ó LEBLON,
NÃO TE ODEIO,
MAS TENHO MEDO
DE PASSAR
POR TI!
Ó LEBLON,
TUA LUZ ENCANTA,
MAS MEU AMOR
HABITA
AÍ!
RJ, maio de 1998
A FLOR QUE DESANDOU A CHORAR
“Elas estão carregadas... bateu meia-noite!
Assim seja, então!...Carlota, Carlota!
Adeus, adeus!”
WERTHER
TOMO I
MARIA RÚBIA ERA MOÇA MUI PRENDADA
CUJA BONDADE ERA DE CAUSAR TROPEL
FILHA ÚNICA DO CORONEL ADAMASTOR
E DESTINADA A SOFRER DE ENLACE CRUEL
DIZIAM QUE NO CORAÇÃO DAQUELA MOÇA
UM ANJO DE ANDURA A TODOS ILUMINAVA
MAS SE A MOÇA TINH’ALMA MUITO BOA
JÁ O CORONEL ERA HOMEM SEM ALMA
SIM, ELA ERA FILHA DE UM HOMEM RUIM
DONO DO CÉU, DA TERRA E DO AR
HOMEM DE MUITA GANÂNCIA E PODER
QUE VIVIA A MANDAR E DESMANDAR
DOCE E ALHEIA À RUINDADE DO CORONEL
RÚBIA ASSIM AMAVA MUI CONSAGRADAMENTE
MAS A LINDA VIU QUE SERIA IMPOSSÍVEL
AMAR UM MOÇO DE BERÇO DIFERENTE
E ASSIM A FLOR DESANDOU A CHORAR
E A RELVA MURCHOU DE TANTA TRISTEZA
ATÉ OS PÁSSAROS CERRARAM-SE OS BICOS
E A TERRA PERDEU TODA SUA LINDEZA
TOMO II
SEU ASTUTO PAI CISMADO DO RABICHO
CEDO A FEZ PROMETIDA DE UM NOBRE RAPAZ
RICO COMERCIANTE DE OURO E PRATA
QUE FIZERA FORTUNA ALGUM TEMPO ATRÁS
MOÇA MIMOSA, TUDO ACEITOU SEM RECLAMAR
OH, DEUS! ATÉ APROVOU SEU FUTURO MARIDO
NINGUÉM DA CASA PERCEBEU NA TRISTEZA
MAS HAVIA MUITA TRISTEZA NO SEU SORRISO...
O ESPÍRITO GRANDIOSO DAQUELA MOÇA LINDA
VAROU TANTAS NOITES SOLUÇANDO A CHORAR
E LAMENTOU PELA FALTA DA MÃEZINHA QUERIDA
QUE AGORA PODERIA SEU PEITO ABRANDAR
LAMENTOU SOFRER TÃO GRANDE DESCAMINHO
NA VIDA QUE SÓ O BEM FEZ OFERECER
MOÇA MIMOSA, SOFREU TÃO CALADA
E OUTRA VEZ LAMENTOU AMAR E SOFRER
E ASSIM A FLOR DESANDOU A CHORAR
E A RELVA MURCHOU DE TANTA TRISTEZA
ATÉ OS PÁSSAROS CERRARAM-SE OS BICOS
E A TERRA PERDEU TODA SUA LINDEZA
TOMO III
ONDE ESTARIA SEU AMADO E BELO MANCEBO?
ONDE ESTARIA QUEM ASSIM É O SEU AMOR?
ONDE ESTARIA SEU AMADO E BELO MANCEBO?
TOCANDO O GADO DO CORONEL ADAMASTOR!
SIM, SEU AMADO ERA VAQUEIRO DE SEU PAI
MANCEBO AIROSO DE CORAÇÃO MUI DECENTE
À TARDINHA SOAVA O BERRANTE NO CAMPO
E O GADO FACEIRO O SEGUIA CONTENTE
E QUANDO VIA POR PERTO A PEQUENA RÚBIA
SEU CORAÇÃO SE ENCHIA DE MUITA ALEGRIA
AH, COMO RÚBIA DEIXAVA SEU SER ALTERADO!
AH, COMO ELE A AMAVA, MAS NÃO PODIA!
ZÉ MIGUEL MUITO AMAVA MARIA RÚBIA
E MARIA RÚBIA MUITO AMAVA ZÉ MIGUEL
MAS ENTRE ELES HAVIA UM PRESSÁGIO DOLOROSO
POIS NINGUÉM JAMAIS ABORRECEU O CORONEL...
E ASSIM A FLOR DESANDOU A CHORAR
E A RELVA MURCHOU DE TANTA TRISTEZA
ATÉ OS PÁSSAROS CERRARAM-SE OS BICOS
E A TERRA PERDEU TODA SUA LINDEZA
TOMO IV
Ó, O AMOR DOS DOIS ERA TÃO GRANDE
QUE ERA FÁCIL COMETER ALGUNS DESLIZES
MARIA RÚBIA TEMIA PELA VIDA DE MIGUEL
JÁ QUE SEU PAI ERA MANDANTE DE CRIMES
MESMO SABENDO DO PERIGO QUE OS CERCAVA
AINDA SE DAVAM A ENCONTROS FURTIVOS
TÃO GRANDE ERA O AMOR DE RÚBIA E MIGUEL
QUE NEM MESMO A MORTE LHES CAUSAVA ARREPIOS
SIM, A MORTE ANTES ERA A PAZ PROFUNDA
PARA DOIS CORAÇÕES DE MUI GRANDE AFEIÇÃO
TÃO GRANDE ERA O AMOR DE RÚBIA E MIGUEL
QUE O RESTO DO MUNDO SE APAGAVA ENTÃO
MAS CISMA DO VELHO CORONEL IA CRESCENDO
E O TEMPO DE ZÉ MIGUEL SE TORNAVA ESCASSO
O VELHO, POR FIM, DECIDIU ACABAR COM A CISMA
E, PARA OUTRO, DEU SUA FILHA EM NOIVADO
E ASSIM A FLOR DESANDOU A CHORAR
E A RELVA MURCHOU DE TANTA TRISTEZA
ATÉ OS PÁSSAROS CERRARAM-SE OS BICOS
E A TERRA PERDEU TODA SUA LINDEZA
TOMO V
OH, DEUS! RÚBIA JÁ NÃO PODIA CONTER
SEU AMOR POR MIGUEL JÁ ERA MUI PERCEBIDO
ENTÃO, O CORONEL MANDOU ALGUNS JAGUNÇOS
QUE NÃO TARDARAM EM MAIS UM SERVIÇO
SIM, JAZ MORTO EM PLENA FLOR DA MOCIDADE
UM VAQUEIRO QUE AMOU A FILHA DO CORONEL
A MALDADE FOI TANTA QUE A MATA ESCONDE
O RASTRO DE SANGUE DE UMA LUTA CRUEL
JOGARAM O POBRE MIGUEL NA ESTRADA
QUEM PASSAVA VIA SEU CORPO RETALHADO
DAÍ O PADRE COMPADECEU-SE DE SUA ALMA
E O VAQUEIRO DIGNAMENTE FOI SEPULTADO
QUANDO MAIS TARDE SOUBE DA TRAGÉDIA
MARIA RÚBIA NÃO VERTEU LÁGRIMA SEQUER
JÁ MATUTANDO O QUE FARIA DE SUA DESGRAÇA
MOÇA MIMOSA, ENCHEU O PEITO DE FÉ...
E ASSIM A FLOR DESANDOU A CHORAR
E A RELVA MURCHOU DE TANTA TRISTEZA
ATÉ OS PÁSSAROS CERRARAM-SE OS BICOS
E A TERRA PERDEU TODA SUA LINDEZA
TOMO VI
DECIDINDO IR AO ENCONTRO DE SEU AMADO
RÚBIA TOMOU, EM SEGREDO, UMA ARMA DO PAI
OH, CÉUS! TODOS OS ARCANJOS ENTOARAM TRISTEZA
TODOS OS ARCANJOS ENTOARAM: “AI! AI!”
SIM, UM PIPOCO DE TIRO ECOOU PELO CASARÃO
E TODOS CORRERAM NUMA AGITAÇÃO DESENFREADA
LÁ ESTAVA ELA... DEITADA SOBRE A CAMA
LINDA, SANTA... COMPLETAMENTE ENSANGUENTADA
O CORONEL ADAMASTOR TENTOU SOCORRER A FILHA
MAS A MENINA SUCUMBIU DE TANTO AMOR
DIZEM QUE CHOROU MIL NOITES RELEMBRANDO
A DOÇURA DA FILHA QUE A MORTE LEVOU
DIZEM QUE UMA MULTIDÃO ACOMPANHOU O CORTEJO
E QUE O VELHO ADAMASTOR AMOLECERA O CORAÇÃO
FOI PRECISO QUE SANGUE DO SEU SANGUE ROLASSE
PARA QUE ELE TIVESSE ALGUMA COMPREENSÃO
E ASSIM A FLOR DESANDOU A CHORAR
E A RELVA MURCHOU DE TANTA TRISTEZA
ATÉ OS PÁSSAROS CERRARAM-SE OS BICOS
E A TERRA PERDEU TODA SUA LINDEZA
TOMO VII
TODA A REGIÃO ENLUTADA E TRISTE
MUITO LAMENTOU A PERDA DA PEQUENA RÚBIA
A HISTÓRIA NOS CONTA QUE O TEMPO FOI DOLOROSO
E QUE SE SEGUIRAM MUITOS ANOS DE CHUVA
SIM, CHOVEU MUITO NAQUELA REGIÃO
E ANOS SE SEGUIRAM DE UM SOL MUI INTENSO
HÁ QUEM DIGA QUE A FLOR DESANDOU A CHORAR
QUE RÚBIA AINDA CHORA SEU TORMENTO
JAMAIS HOUVE DESOLAÇÃO COMO AQUELA...
NADA FLORESCIA NA TERRA ENCHARCADA OU SECA
FOI QUANDO A CIDADE LEVANTOU ESPANTADA
COM O GRITO: “EU VI, EU VI A CAVEIRA!”
O GRITANTE ERA O ZELADOR DO CEMITÉRIO
QUE SUBIA E DESCIA NUMA GRANDE AGONIA
POBRE INFELIZ, DIZIA TER SIDO ASSOMBRAÇÃO
E GRITAVA: “PROTEGEI MINH’ALMA SANTA LUZIA!”
E ASSIM A FLOR DESANDOU A CHORAR
E A RELVA MURCHOU DE TANTA TRISTEZA
ATÉ OS PASSÁROS CERRARAM-SE OS BICOS
E A TERRA PERDEU TODA SUA LINDEZA
TOMO VIII
SEU JORGE ERA HOMEM DE GRANDE DIGNIDADE
E CUIDAVA DO CAMPO-SANTO COM RARA DEDICAÇÃO
SE O HOMEM MAL PODIA OS NERVOS CONTER
CERTAMENTE HAVERIA ALGUMA EXPLICAÇÃO
AO AMANHECER, FORAM LÁ NO CEMITÉRIO...
ENTRARAM E VIRAM COISAS MUI ARREPIANTES...
DUAS COVAS COMPLETAMENTE VIOLADAS
SEM O MENOR VESTÍGIO DE SEUS OCUPANTES
A PRINCÍPIO, PENSARAM N’ALGUM LADRÃO
E DEPOIS N’ALGUM MOLEQUE MAIS ARRUACEIRO...
MAS COMO? NUMA CIDADEZINHA TRANQUILA E PACATA
EM QUE VIVE UM POVO HUMILDE E ORDEIRO?
SEGUIU-SE, ENTÃO, QUE UM COIOTE INVASOR
ADENTRANDO ALI, ELE REMEXERA NA TERRA...
MAS ONDE ESTARIA AS PEGADAS DO BICHO
E COMO FEZ AFASTAR AS LAJES DE PEDRA?
E ASSIM A FLOR DESANDOU A CHORAR
E A RELVA MURCHOU DE TANTA TRISTEZA
ATÉ OS PÁSSAROS CERRARAM-SE OS BICOS
E A TERRA PERDEU TODA SUA LINDEZA
TOMO IX
DEPOIS DE CERTO TEMPO, DERAM POR PERCEBIDO
QUE NÃO PODIAM EXPLICAR HORRIPILANTE AÇÃO
OH, DEUS! ELES SE OLHAVAM E SE PERGUNTAVAM:
“COISA DE ROUBO, COIOTE OU DE ASSOMBRAÇÃO?”
MENOS SUSTO NÃO FOI QUANDO SOUBERAM
QUE OS TÚMULOS ALI ERAM DE RÚBIA E MIGUEL
ENTÃO, TODOS CORRERAM MUI APAVORADOS
E A CIDADE REVIVEU AQUELE TEMPO CRUEL...
SIM, A NOTÍCIA SE ESPALHOU PELA REGIÃO
E FOI PRECISO FECHAR O CEMITÉRIO ÀS PRESSAS
O XERIFE QUE SE ENCONTRAVA EM OUTRA CIDADE
CHAMADO FOI COM CEBO NAS CANELAS...
QUANDO ELE CHEGOU, FORAM LÁ NO CEMITÉRIO...
TODOS ENTRARAM E VIRAM COISAS MUI ARREPIANTES:
UMA SEPULTURA COMPLETAMENTE VAZIA
E NA OUTRA – Ó CÉUS!– DUAS CAVEIRAS-AMANTES...
E ASSIM A FLOR NASCEU NO CANTEIRO
E A RELVA CRESCEU DE TANTA FIRMEZA
AS AVES ABRIRAM, DE NOVO, SEUS BICOS
E A TERRA REFEZ TODA SUA LINDEZA
RJ, fevereiro de 1998
CARLA
AMIGA OU AMADA?
FORTE OU FRACA?
SANTA OU DEVASSA?
CARLA OU CARLA?
OURO OU PRATA?
COMUM OU RARA?
DOCE OU AMARGA?
CARLA OU CARLA?
FOGO OU ÁGUA?
TWIST OU VALSA?
SORTE OU CARMA?
CARLA OU CARLA?
QUARTO OU SALA?
SERRA OU PRAIA?
FLOR OU PRAGA?
CARLA OU CARLA?
RJ, dezembro de 1999
À CHAMA DA VELA
a vela revela
o que sinto por ela
a vela vela
sobre a mesa amarela
a vela encerra
a alegria da primavera
a vela desvela
a tristeza da era
a vela velha
mal sabe dela...
a chama da vela
só chama e reza
a vela é por ela
uma solidão eterna
a vela, então, sela
sua última piscadela...
RJ, maio de 2007
SEU OUTONO
Eu vou viver
Acima de tudo:
Solidão
Morte
Repúdio
Eu vou viver
Bem ou mal:
Samba
Roda
Berimbau
Eu vou viver
Seu outono:
Sol a sol
Pano a pano
Eu vou viver
Minha Véia:
Anos e anos
Anos e pregas
RJ, dezembro de 1999
HÁ CEM HORAS
já não durmo há cem horas
as senhoras já não olham
já não compro há cem horas
as senhoras já não dizem
já não paro há cem horas
as senhoras já não ouvem
já não peco há cem horas
as senhoras já não luzem
já não beijo há cem horas
as senhoras já não cantam
já não janto há cem horas
as senhoras me desprezam
RJ, dezembro de 1999
ÁGUA SUJA
eu não durmo,
mas estou em casa
eu bebo a água
suja da privada
eu lavo as roupas,
mas as lavo em casa
eu bebo a água
suja da privada
não sou conhecido,
mas sou único
eu bebo a água
suja do mundo
o coração bate
e a água é suja,
mas aguardo ansioso
pela chuva
RJ, maio de 2000
EM VERSO TE DIGO...
em verso te digo
que o universo
é perto do teu umbigo!
em verso te digo
que o inverso
da tristeza é teu
sorriso!
Em verso te digo
que o inverno
nem abala teu
paraíso!
em verso te digo
que o inferno
não passa de um
pessimismo!
em verso te digo
que somente poeto
porque sou teu
peregrino!
RJ, abril de 2008
A CURA
VOCÊ DE LINGÉRIE É CURA
É LUCIDEZ, É A SAÍDA DO MANICÔMIO
VOCÊ DE LINGÉRIE É FULGURA
É SENSATEZ, É A CAMADA DE OZÔNIO
VOCÊ DE LINGÉRIE É FOGO
É PALHA, É O FOGO NA PALHOÇA
VOCÊ DE LINGÉRIE É IODO,
É NAVALHA, É A FUGA DA ESCOLA
VOCÊ DE LINGÉRIE É TUDO
É COXA, É O PRAZER DESMEDIDO
VOCÊ DE LINGÉRIE É LUCRO
É MOÇA, É O PÃO DO MENDIGO
VOCÊ DE LINGÉRIE É ALMA
É PORTA, É O VENTO DA LUCIDEZ
VOCÊ DE LINGÉRIE É FAUNA
É FLORA, É O LUGAR DA SENSATEZ
RJ, outubro de 2000
SEGUNDA-FEIRA
SEGUNDA-FEIRA
E EU VIVO!
Ó CÉUS, Ó LÁSTIMA,
Ó VIDA SEM SENTIDO!
SEGUNDA-FEIRA
E EU NEGRO!
Ó CÉUS, Ó LÁSTIMA,
Ó VIDA DE DESTERRO!
SEGUNDA-FEIRA
E EU VAZIO!
Ó CÉUS, Ó LÁSTIMA,
Ó VIDA SEM SENTIDO!
SEGUNDA-FEIRA
E EU FEIO!
Ó CÉUS, Ó LÁSTIMA,
Ó VIDA DE DESTERRO!
RJ, dezembro de 2000
PENSAR EM VOCÊ
PENSAR EM VOCÊ
E EM NADA É A MESMA COISA
SIGO PENSANDO...
PENSAR EM VOCÊ
E EM NADA É A MESMA COISA
SIGO NADANDO...
PENSAR EM VOCÊ
E EM NADA É A MESMA COISA
SIGO PENSANDO...
PENSAR EM VOCÊ
E EM NADA É A MESMA COISA
SIGO NADANDO...
RJ, dezembro de 2000
MÊS DOZE
Deus bem que poderia dizer:
“Agora chega do meu filho sofrer”
Mas Deus nada diz, não me ouve
E sigo sofrendo pelo mês doze
Deus bem que poderia dizer:
“Já estou cansado de sofrimento ver”
Mas Deus está mesmo mui ocupado
Nem escuto o som dos seus passos
Deus bem que poderia dizer:
“O tempo de Jó já passou pra você”
Mas Deus nada diz, não me ouve
E sigo sofrendo pelo mês doze
Deus bem que poderia dizer:
“Vou te mandar muito amor e prazer”
Mas Deus não quer saber de mim
E sigo sofrendo pelo mês sem fim...
RJ, dezembro de 2000
VIÚVA NEGRA
Vem Viúva Negra deitar comigo
Uma noite vale tudo, vale a vida
Uma noite é o bastante, é o céu
Depois eu serei tua comida
Vem Viúva Negra deitar comigo
Abro o peito e deixo que me sugue
Uma noite é o bastante, é o céu
Depois eu cheiro teu perfume
Vem Viúva Negra deitar comigo
Amanhã serei lembrança, filme
Minha satisfação é que me sugue
Depois eu cheiro teu perfume
Vem Viúva Negra deitar comigo
Abro o peito e te dou minha vida
Uma noite é o bastante, é o céu
No peito punhal, na boca mel...
RJ, dezembro de 2000
MER...
NÃO DOU ORGULHO,
SOU DESGRAÇADO
MEU NOME É JOSÉ,
UM SUJEITO MALCRIADO
NÃO SOU ESPORTISTA,
SOU POETA
MEU NOME É JOSÉ,
UM PUNHADO DE MER...
NÃO TIRO A TUA ROUPA,
SOU CASTO
MEU NOME É JOSÉ,
UM SUJEITO NEFASTO
NÃO DOU ALEGRIA,
SOU POETA
MEU NOME É JOSÉ,
UM PUNHADO DE MER...
RJ, janeiro de 2001
O FANTASMA DELA
OH, NÃO! UM FANTASMA PUXOU
A MINHA PERNA!
ELE ERA BRANCO, LUZENTE
E DIZIA SER ELA!
OH, NÃO! UM FANTASMA PUXOU
A MINHA PERNA!
FIQUEI BRANCO, FIQUEI PÁLIDO,
FIQUEI COMO A VISÃO DELA!
OH, NÃO! UM FANTASMA PUXOU
A MINHA PERNA!
ELE ERA BRANCO, LUZENTE
E DIZIA SER ELA!
OH, NÃO! UM FANTASMA PUXOU
A MINHA PERNA!
SEDENTO, ELE DISSE QUE ESTAVA
À MINHA ESPERA!
RJ, janeiro de 2001
UM ATO DO CÉU
Não escrevo comercialmente
A poesia é, pra mim, algo diferente!
Desabafo com ela, reclamo e recoloco a vírgula
A poesia é, pra mim, uma lição de vida!
Não escrevo comercialmente
A poesia preenche o buraco do dente!
Respiro, inspiro e como do papel
A poesia é, para mim, um ato do céu!
Não escrevo comercialmente
A poesia é a seta certamente!
Comungo do mistério, do assédio, da conspiração
A poesia é, pra mim, uma apunhalada no coração!
Não escrevo comercialmente
A poesia é a riqueza que vem do ventre!
Desabafo, respiro e como do papel
A poesia é, para mim, um ato do céu!
RJ, janeiro de 2001
VAMPIRA
VAMPIRA! VAMPIRA!
SEDENTA! SEDENTA!
VAMPIRA! VAMPIRA!
CRUENTA! CRUENTA!
VAMPIRA! VAMPIRA!
BELEZA IMORTAL!
VAMPIRA! VAMPIRA!
DIABA DO MAL!
VAMPIRA! VAMPIRA!
SEDENTA! DIABA!
VAMPIRA! SEDENTA!
MALVADA! MALVADA!
VEMPIRA! VAMPIRA!
DIABA! VAMPIRA!
SEDENTA! SEDENTA!
FAMINTA! FAMINTA!
RJ, julho de 1998
A VELA SOBRE A MESA
A vela sobre a mesa
E a sala no escuro
Faziam daquela noite
Uma ida ao sepulcro
A vela sobre a mesa
E o corte da navalha
Faziam daquela lua
Uma lua mui macabra
A vela sobre a mesa
E o corpo no sepulcro
Faziam daquela noite
Uma ventania de susto
A vela sobre a mesa
Era a vela do defunto
Que de dentro da terra
Praguejava iracundo...
RJ, julho de 1998
CACHOS
CACHOS
CACHOS
CACHEADOS
DE MULHER
CACHOS
CACHOS
PEROLADOS
DA GUINÉ
CACHOS
CACHOS
CACHEADOS
DE MULHER
CACHOS
CACHOS
PEROLADOS
E ATÉ...
CACHOS
DE UVA
E BANANA
DO PÉ
RJ, julho de 1998
ENTRE O CHOPP E O INFINITO
A FILOSOFIA FOI MÁ COMIGO
ELA ME ENCHEU DE CONCEITOS
E ME JOGOU NA NOITE FRIA
AGORA, SOU UM DOENTE E FICO
ENTRE O CHOPP E O INFINITO
RJ, agosto de 1998
DIA SETE
PRIMEIRO DIA, FIQUEI EM CASA
SEGUNDO DIA, PERDI A VEZ
TERCEIRO DIA, SEGUI OS DOIS
QUARTO DIA, SEGUI OS TRÊS
QUINTO DIA, SEGUI EM CASA
QUINTO DIA, PERDI A VEZ
SEXTO DIA, SEGUI A REGRA
DIA SETE, SEGUI OS SEIS
RJ, outubro de 1998
QUERER BEM
PERNAS?
BUSTOS?
BOCAS?
TARAS?
NÁDEGAS?
NÁDEGAS?
UM SÓ QUERER
ME BASTAVA!
(VOCÊ QUER?)
ISSO ME INCITA;
NÃO TUA FACE
OU
TUA PELE MACIA
MAIS
QUE UM HARÉM,
UM
SÓ QUERER BEM!
RJ, dezembro de 1998
FIGURAS DE VOCÊ
O NATAL, UMA PAREDE...
O REVÉILLON, UMA PAREDE...
O CARNAVAL, UMA PAREDE...
SÃO JOÃO, UMA PAREDE...
HORA DE ENTRAR E MORAR...
RJ, fevereiro de 1999
SAUDAÇÕES FÚNEBRES
Saudações fúnebres
Ao universo azevediano
Pois a vida é spleen(*)
Morte e um charuto havano
Saudações fúnebres
Ao mestre romântico
Cuja obra fez milagre:
Aliou anjo e demônio
Saudações e saudações
Ao Maneco byroniano
Cavaleiro de fino dote
E errante qual um cigano
Saudações e saudações
Ao anjo e ao ateu
Se Byron foi teu mestre
Eu sou discípulo teu
(*) Baço em inglês. No séc. XIX, acreditava-se que o estado melancólico de uma pessoas tinha relação com este órgão. Daí o termo embaçado para designar algo sem brilho, triste, melancólico.
RJ, agosto de 1999
ÀS VEZES...
ÀS VEZES, AS COISAS SÃO ASSIM:
VOCÊ NÃO É A MESMA PRA MIM!
ÀS VEZES, AS COISAS SÃO ASSIM:
VOCÊ ACEITA O MESMO DE MIM!
ÀS VEZES, AS COISAS SÃO ASSIM:
NINGUÉM REGA MAIS O JARDIM!
ÀS VEZES, AS COISAS SÃO ASSIM:
UMA FRIEZA PROFETIZA O FIM!
RJ, setembro de 1999
DIVAGANDO
DIVAGANDO A ENCONTREI,
ENTÃO MORRI E SORRINDO CHOREI
DIANTE DA BELDADE!
DIVAGANDO A ENCONTREI,
ENTÃO MORRI E CHORANDO FIQUEI
PELA FALTA DE REALIDADE!
DIVAGANDO A ENCONTREI,
ENTÃO MORRI E DE NOVO REZEI
DIANTE DA BELDADE!
DIVAGANDO A ENCONTREI,
ENTÃO MORRI E DE NOVO SANGREI
ESSA FALTA DE REALIDADE!
RJ, janeiro de 2001
O BAILE
NO GIRO BRIOSO
DE UM SÓ ASSOPRO
DE ALMA-A-ALMA
DANÇO E CONTRADANÇO
A INCLINO E ANDO
A CONDUZO NA VALSA
NO GIRO RITMADO
A PUXO NUM ABRAÇO
PRA MIM ELA SALTA
DANÇO E CONTRADANÇO
A INCLINO E ANDO
A CONDUZO NA VALSA
NO GIRO TACITURNO
DE QUEM EXPIRA NO FUNDO
DE UMA COVA RASA
DANÇO E CONTRADANÇO
A INCLINO E ANDO
A CONDUZO NA VALSA...
RJ, julho de 1996
BABY BLUE
BANHO DE MAR E O OLHAR
DO CÉU MAIS AZUL
SEU NOME É VENTANIA
SEU NOME É BABY BLUE
BANHO DE SOL EM MEIO
A ABUTRES E URUBUS
SEU NOME É VENTANIA
SEU NOME É BABY BLUE
BANHO DE BICA E LOUCURA
À VISTA DE NEW YGUAÇU
SEU NOME É VENTANIA
SEU NOME É BABY BLUE
BANHO DE BRISA
E VESTIDINHO ESVOAÇANDUUUÚ
SEU NOME É VENTANIA
SEU NOME É BABY BLUE
Nova Iguaçu, janeiro de 2001
BONECO DE NEVE
ESSE BONECO DE NEVE
TEM OLHOS, BOCA E NARIZ!
ESSE BONECO DE NEVE
SÓ PERDE PARA O MEU CHAFARIZ!
ESSE BONECO DE NEVE
TEM LUVAS, CHAPÉU E CACHICOL!
ESSE BONECO DE NEVE
SÓ PERDE PARA O MEU SOL!
ESSE BONECO DE NEVE
TEM HUMOR, SIMPATIA E BOTÕES!
ESSE BONECO DE NEVE
SÓ PERDE PARA MEUS FOLIÕES!
ESSE BONECO DE NEVE
TEM PINTA, ALEGRIA DESCONTRAÇÃO!
ESSE BONECO DE NEVE
SÓ PERDE PARA O MEU SERTÃO!
RJ, janeiro de 2001
CONTADOR DE HISTÓRIA
Eu dormia com Marília de Dirceu(1)
Conversava com André Maurois(2)
E saía do nono andar(3)
Com a sensação do dever cumprido
Eu escrevia a José Linhares(4)
Jogava xadrez com Kant(5)
E passeava no mirante
Com Júlio de Castilhos(6)
Eu declamava Casimiro(7)
Às donzelas
Declamava Maneco às bromélias(8)
E escutava a chuva caindo
Eu chorava por WHERTER
E Carlota(9)
Eu chorava por Inês, a morta(10)
E acordava com o sol a pino
(1)ESCOLA MUNICIPAL MARÍLIA DE DIRCEU
(2)COLÉGIO ESTADUAL ANDRÉ MAUROIS
(3)O ANDAR DA FILOSOFIA NA UERJ
(4)ESCOLA MUNICIPAL JOSÉ LINHARES
(5)IMMANUEL KANT, FILÓSOFO ALEMÃO(1724-1804)
(6)ESCOLA MUNICIPAL JÚLIO DE CASTILHOS
(7)CASIMIRO DE ABREU, POETA(1839-1860)
(8)APELIDO DE ÁLVARES DE AZEVEDO, POETA(1831-1852)
(9)WERTHER, DE GOETHE(1749-1832)
(10)INÊS, A RAINHA MORTA
RJ, janeiro de 2001
O SÁBIO
TOMOI
O SÁBIO NADA SABE,
SIMULA!
O SÁBIO É UM GRANDE
FILHO DA PUTA!
ELE É UM BASTARDO,
SE BASTA!
CARREGA EM SEU DORSO
UMA CANGALHA!
O SÁBIO É UM SÍMIO,
SIMULACRO!
UM FETO NA NOITE FRIA
EXPURGADO!
ELE É UM SONSO
E ASSIM MULA!
FILHO DE LOBISOMEN
COM UMA PROSTITUTA!
DIZ QUE SABE TUDO,
MAS NÃO PASSA DE SABÃO!
MULA QUE CARREGA O FERRETE
INFECTO E VIL PRA CASSETE
DE SABICHÃO!
TOMO II
MAS SERÁ UM FINGIDOR
E ASSIM DISSUMULA?
FINGE QUE LIMPA
E NÃO LIMPA A BUNDA!
FINGE NADA SABER,
MAS, DE FATO, SABE TUDO?
SIMULA APENAS PORQUE
JAMAIS PARA O MUNDO?
SABE QUE SABE,
MAS MULA FEITO TURRÃO?
PREFERE VER O OUVINTE
EM TREMENDO TURBILHÃO?
SERÁ MESMO ESTRATÉGIA
OU COISA MEIO PARELHA?
FINGE QUE TIRA
E NÃO BATE NA POEIRA?
SE FINGE, QUEM É QUE VAI
ACABAR SUA DISPUTA?
POR ISSO, DE TODO JEITO,
O SÁBIO É MESMO
UM GRANDE FILHO DA PUTA!
RJ, maio de 2010-10-20
A VOZ DE UMA MULHER
A BRANDA VOZ
DE UMA MULHER ARREPIA!
A ROUCA VOZ
DE UMA MULHER ESQUENTA!
A MEIGA VOZ
DE UMA MULHER RECORDA
QUE SUA PRESENÇA A DOR AFUGENTA!
O SUSSURRINHO
DE UMA MULHER EXULTA!
O SUSSURRINHO
DE UMA MULHER ALGEMA!
A MEIGA VOZ
DE UMA MULHER RECORDA
QUE SUA PRESENÇA A DOR AFUGENTA!
RJ, janeiro de 2001
SEM OS SEIOS
Quem seria você
Sem os seios?
Seria uma flor murcha,
Sem vida alguma
E sem amor!
Quem seria você
Sem os seios?
Seria uma menininha boba,
Muito tola
E sem amor!
Quem seria você
Sem os seios?
Seria alguém exatamente
Como eu sou:
Um sujeito
Sem os teus
Seios
E sem amor!
RJ, janeiro de 2001
BELA ROSA
Vê-la linda ao seu leito agora
Seria desfolhar uma bela rosa,
Que perfuma e encanta tudo
Ao passear pelo negro mundo.
Vê-la linda como Deus a fez
Seria profanar uma arte sacra,
Que diante do fiel devoto
Recebe preces de toda praça.
Vê-la linda e tão indefesa
Seria mais que uma malvadeza
Do homem baixo e descabido,
Sem coração e carcomido.
Vê-la linda e tão indefesa
Como Deus a fez formosa,
Seria obra do gatuno frio
A desfolhar uma bela rosa.
Rio de janeiro, setembro de 1998
ANDRESSA
Andressa é tigresa, é beleza
É coisa brasileira!
Andressa é Teresa, é estrela
É coisa brasileira!
Andressa é sereia, é praieira
É coisa que candeia!
Andressa é perfeita, é tigresa
É minha loura-nêga!
Andressa é fineza, é brabeza
É coisa brasileira!
Andressa é leveza, é estrela
É a minha uva-pêra!
Andressa é sereia, é praieira
É coisa que candeia!
Andressa é Teresa, é beleza
É a minha loura-nêga!
RJ, janeiro de 2001
O NAVEGADOR
DIGA, Ó DEUS, SE ESTOU
EULOUQUECENDO!
DIGA, Ó DEUS, SE ESTOU
AMOTINADO!
DIGA, Ó DEUS, QUE MUITO
LHE RESPEITO!
DIGA, Ó DEUS, SOBRE ESSE
CÃO DANADO!
DIGA, Ó DEUS, QUE A NAU
VAI ZARPANDO!
DIGA, Ó DEUS, QUE O SOL
VAI SUBINDO!
DIGA, Ó DEUS, QUE LHE
RESPEITO TANTO!
DIGA, Ó DEUS, SE ENCONTRO
O PARAÍSO!
RJ, janeiro de 2001
NITERÓI
a lua sobre nós,
as barcas e Niterói
diziam tudo:
amor, sexo, veludo!
a lua sobre nós,
as águas e Niterói
diziam tudo:
você, eu e o mundo!
a lua sobre nós
a eternidade e Niterói
diziam tudo:
paz, amor, veludo!
a lua sobre nós,
as águas e Niterói
diziam tudo:
você, eu e o mundo!
Niterói, janeiro de 2001
BEIJO DE LÍNGUA
Desmistifica a minha vida, ó menina
Dá-me um beijo molhado de língua
Que’u me torne um ser carnal então
Cheio de veias, sangue e coração
Desmistifica que quero ser mundano
Dá-me um beijo de língua e pronto
Que meus pés encontrem vida no chão
Dá-me um beijo de veia e coração
Desmistifica esse anjo preso em casa
Dá-me um beijo de língua molhada
Que’u me torne um ser carnal então
Sem asas, auréola, reza ou oração
Desmistifica que quero ser mundano
Dá-me um beijo molhado e tanto
Que meus pés encontrem vida no chão
Sem asas, auréola, reza ou oração
RJ, janeiro de 2001
QUEM ÉS TU?
Quem és tu?
Quem és tu?
Por que te escondes
No escuro, no lodo,
No buraco do tatu?
Quem és tu?
Quem és tu, então?
Por que não ligas
Pra ela com a mão
No coração?
Quem és tu?
Quem és, tatu?
Por que não fazes
Nada para espantar
Esse urubu?
Quem és tu?
Quem és, então?
Por que não ligas
Pra ela com a mão
No coração?
RJ, janeiro de 2001
NAÇÃO
VIVER
CONVIVER
CONVIVÊNCIA
CONVENCIMENTO
TEMPERAMENTO
TEMPERANÇA
TEMPERO
TEMPO
VENTO
VENTOSA
VENTOINHA
VENTOSIDADE
ESTIOLAMENTO
ESTIMÁVEL
ESTÍMULO
IDADE
ESTAR
ESTÁTUA
ESTATÍSTICA
ESTERILIZAÇÃO
DATILOSCÓPIO
DAMASCENO
DADIVOSO
DEÃO
CORPO
CORPORAL
CORPORAÇÃO
CORPORIFICAÇÃO
NACIONALIDADE
NACIONALIZAR
NADADEIRA
NAÇÃO
RJ, fevereiro de 2001
XENÓCRATES E FRINÉIA(*)
Não resistas a Frinéia, Xenócrates!
A vida é curta demais, meu caro!
Vá ter com Frinéia, irmão!
E descanse o corpo cansado!
Os gentios já falam de nós!
Dizem que as artes afeminizam!
Vá ter com Frinéia, irmão!
E ouça o badalar dos sinos!
Não, não, não resistas, não!
Deixe o fogo te consumir, meu caro!
Vá ter com Frinéia, irmão!
Vá ter com a dona do pecado!
Vá calar a voz dos gentios!
E não resistas, ó Xenócrates, não!
Vá ter com Frinéia, a cortesã!
Vá ter com Frinéia, irmão!
(*) Xenócrates, discípulo de Platão, era considerado um dos homens mais honrados e austeros de Atenas. Conta-se que ele resistiu bravamente às investidas de Frinéia ou Friné, a cortesã.
RJ, fevereiro de 2001
SEM FRIEIRA
NEM FRIEIRA TENHO
PRA COÇAR!
Ó LÁSTIMA, Ó PRAGA,
Ó MAR!
NEM VIZINHO TENHO
PRA XINGAR!
Ó LÁSTIMA, Ó PRAGA,
Ó MAR!
NEM CORVO TENHO
PRA ESPANTAR!
Ó LÁSTIMA, Ó PRAGA,
Ó MAR!
NEM DEMO TENHO
PRA IGNORAR!
Ó LÁSTIMA, Ó PRAGA,
Ó MAR!
RJ, fevereiro de 2001
CONFINADO
CONFINS, CONFINS
E O CONFINADO!
TÉDIO, TÉDIO, TÉDIO
E TATO!
CONFINS, CONFINS
E GRANDES CONFETES!
PLEBES, PLEBES, PLEBES
E PLEBES!
CONFINS, CONFINS
E O CONFINADO!
SELA, SELA E O SELO
SELADO!
CONFINS, CONFINS
E GRANDES CONFETES!
COMO FEDES, FEDES,
FEDES E FEDES!
RJ, fevereiro de 2001
RATOS
Quem é humano?
Quem é rato?
Quem vive em cima?
Quem vive em baixo?
Quem é humano?
Quem é rato?
Quem come tripa?
Quem tem status?
Quem é humano?
Quem é rato?
Quem tem ninhada?
Quem tem rabo?
Quem é humano?
Quem é rato?
Quem come tripa?
Quem lucra alto?
RJ, fevereiro de 2001
CHÁ COM TORTA
CHÁ COM TORTA
E CROISSANT!
CHÁ COM TORTA
PELA MANHÃ!
CRAVO, CANELA
E CAFÉ!
COITO ÀS OITO
NO CHALÉ!
BEIJO ÀS OITO
DA MANHÃ!
CAFÉ COM COITO
DE MAÇÃ!
CACAU, CAFÉ
E ERVA-DOCE!
AVELÃ NA MESA,
AQUI, QUATORZE!
CHÁ COM LEITE
E CHAMPAGNE!
O AMANHÃ NÃO
AMANHÃNE!
CANA, COCO,
CAFÉ COM COITO!
BIS... BIS...
BISCOITO!
RJ, MARÇO DE 2001
SHE’S SO BEAUTIFUL
Ela acaba com meu ser
Ela acaba com o que sou
Faz de mim o seu prazer
She’s so... so beautiful
Ela é pura lua no céu
Amor que chama amor
Então, me enebria de mel
She’s so... so beautiful
Ela me xinga e me beija
Amor que chama amor
She’s so... so beautiful
Ela chama o sol pra si
Ela acaba com o que sou
She’s so... so beautiful
RJ, março de 2001
O CAVERNOSO
FRUTAS?
LEGUMES?
MOELAS?
EU SOU UM HOMEM DA CAVERNA!
MÉDICO?
CHECK UP?
HÉRNIA?
EU SOU UM HOMEM DA CAVERNA!
ESPINAFRE?
BROCÓLIS?
KARATECA?
EU SOU UM HOMEM DA CAVERNA!
PLÁSTICA?
SILICONE?
ESTÉTICA?
EU SOU UM HOMEM DA CAVERNA!
RJ, março de 2001
VERSOS INCANDESCENTES
NÃO
TE
BEIJEI,
NÃO TE AMEI,
MAS FAZES PARTE
DA MINHA HISTÓRIA
POÉTICA. ESTÁS, ENTÃO,
TODA PRESENTE, NOS VERSOS
INCANDESCENTES DA MINHA MÉTRICA.
NÃO
TE
BEIJEI,
NÃO TE AMEI,
MAS EI DE CANTAR
TUA BELEZA NESSES VERSOS
INCANDESCENTES. ELES ALUMIAM,
COM EFEITO, COM GRANDEZA, SÓ PARA
MOSTRAR COMO ÉS CRESCENTE, ESTRELA.
RJ, março de 2001
NÃO ME SINTO EM KANSAS
NÃO ME SINTO EM OHIO
NÃO ME SINTO EM FAMÍLIA
NÃO ME SINTO NO CASTELO
NÃO ME SINTO NA VIDA
NÃO ME SINTO DA CINTURA
NÃO ME SINTO NA FESTA
NÃO ME SINTO NO CAIS
NÃO ME SINTO EM MECA
NÃO ME SINTO NO ESPELHO
NÃO ME SINTO NA FITA
NÃO ME SINTO EM ROMA
NÃO ME SINTO NA VIDA
NÃO ME SINTO NA PRAIA
NÃO ME SINTO DE MUDANÇA
NÃO ME SINTO NA TERÇA
NÃO ME SINTO EM KANSAS
RJ, março de 2001
MOMENTOS PESSOAIS
Enquanto durmo os anjos
Dizem: “é ele! é ele! é ele!”
Mas quando acordo é apenas
Isso: cacete! cacete! cacete!
Devo estar em algum conto
De Edgard Alan Poe ou de
“Noites na Taverna”.
O terror, então, diz pra vida:
“É ela! é ela! é ela!
Acordo e a mente começa
A dizer: “é Poe! é Poe! é Poe!
Perco tempo em convencê-la
Que saí, não estou!
Devo estar em algum
Cruzamento astral, difícil
De entender.
Ó não! ó não! ó não!
O terror, então, diz pra vida:
“É OCÊ! É OCÊ! É OCÊ!
RJ, março de 2001
DIA DA POESIA
EU PRECISO DELA, ENTENDE?
EU PRECISO DELA DESESPERADAMENTE!
EU PRECISO DELA COMO RESPIRO!
EU PRECISO DELA ENQUANTO RESPIRO!
EU PRECISO DELA NOITE E DIA!
EU PRECISO DELA LUZINDO NA VIDA!
EU PRECISO DELA COMO RESPIRO!
EU PRECISO DELA, Ó COMO PRECISO!
RJ, março de 2001
EU CHORO...
SENTADO NA CAMA,
EU CHORO!
NÃO SEI PORQUE CHORO,
SÓ CHORO!
PERDI O CONTROLE,
EU CHORO!
POR UMA AGULHA
SE PERDE A VIDA,
SEU OSÓRIO!
SENTADO NA CAMA,
EU CHORO!
NÃO SEI PORQUE CHORO,
SÓ CHORO!
PERDI O CONTROLE,
EU CHORO!
POR UMA AGULHA
SE PERDE A VIDA,
SEU ÓSORIO!
RJ, março de 2001
A DAMA DO CINE SHANGHAI
MAITÊ-ME DE PÃO;
MAITÊ-ME DE PAIXÃO;
MAITÊ-ME ATÉ...
TORTURADO DE COLHER
COM UMA SÓ MÃO!
MAITÊ-ME DE SOPRO;
MAITÊ-ME DE FÔLEGO;
MAITÊ-ME ATÉ...
COM CUSPE DE MULHER
E ÁGUA DE COCO!
MAITÊ-ME DE LUA;
MAITÊ-ME DE FUNDA;
MAITÊ-ME ATÉ...
EMBELEZANDO O PÉ
SOBRE MINHA CORCUNDA!
MAITÊ-ME DE FOME;
MAITÊ-ME DE CONE;
MAITÊ-ME ATÉ...
COMO FAZ TODA MULHER
AO MATAR O SEU HOMEM!
RJ, maio de 2001
O ESQUELETO DENTRO DO ARMÁRIO
Elvis não morreu,
Elvis sou eu!
Se sou Elvis, então
É meu teu coração!
Mas você é um breu,
Pra ti Elvis morreu!
Mas Elvis tá vivo,
Sou Elvis e confirmo!
Elvis não morreu,
Elvis sou eu!
Mas você, a Priscilla,
Não quer dar-me vida!
Mas agora, eu entendo
O lusco-fusco do momento:
Em meu trono de solidão
Jamais terei o teu coração!
Nem se eu fosse Elvis,
Dar-me-ia amor e pélvis!
Porque se Elvis sou eu,
Pra você Elvis morreu!
Você não matou o rei,
Eu, regicida, o matei!
Porque Elvis, de fato, morreu,
Tendo em vista que Elvis sou eu!
RJ, abril de 2001
O DIA DE MILHÃO DO TOSTÃO
EU
TIRANDO
O
TEU
SUTIÃ...
RJ, maio de 2001
SOBRE A RAZÃO
EXISTE ALGUMA RAZÃO?
SERÁ QUE EXISTE ALGUMA RAZÃO?
SERÁ QUE É RAZÃO?
NÃO, É SÓ UM CAIXÃO!
RJ, maio de 2001
FACE A FACE
Para o sepulcro, eu vou sorrindo!
Hoje é dia de festa e alegria!
Beijarei o céu e os cadáveres
E não haverá dó nem birra!
Hoje, meu casebre é um palácio!
Meus trapos são trajes reais!
No prato só tem boa comida
E à mesa sento com meus rivais!
Hoje, minha mágoa é fortuna!
Meus olhos descortinam belezas!
Danço e canto nas horas solenes
E sério fico nas brincadeiras!
Hoje, é dia de festa e alegria!
Vou andar pelo mundo e gritar:
“Ela esteve comigo face a face
E o amor eu vi em seu olhar!”
RJ, junho de 1997
AS SENHORAS MORTAS
Bem abaixo das nuvens negras
Covil-sepulcro de muitas donzelas
Cantam os aedos em cinzenta fossa
As vivas chagas de grandes mazelas
Vil tristeza das flores mortas
Nesse desterro de um só penar
Noturno-ramo da cova abraça
As lindas senhoras de véu-luar
Lis-dos-ventos perdeu o viço
E é sombrio seus prantos-versos:
Maldizem o mundo da sorte vã
Daqui e desses confins-infernos
Candura-altiva dentro repousa
Em serena vala de aposento-mor
Alcova dita para dois amantes...
Amar-te vou sem pudor menor
Mil serpentes cruzam a réstia
Nos mil chamados do eterno-além
Igual medida de sumo-mortiço
E contigo irei morar também...
RJ, outubro de 1996
NEM QUERO TEU VÍCIO
Fantasmas, por favor,
Saiam daqui, insisto!
Façam de conta, por favor,
Que eu não existo!
Mulher, por favor,
Por amor de Cristo!
Finja, ó mulher, por favor,
Que eu não existo!
Conhaque, ó conhaque,
Nem quero teu vício!
Finja, apenas, ó conhaque,
Que eu não existo!
Poesia, ó poesia,
Dá-me também algum alívio!
Faça de conta, por favor,
Que eu não existo!
Mundo, ó mundo,
Que eu lhe seja invisível!
Finja, apenas, ó mundo,
Que eu não existo!
RJ, dezembro de 2005
FIM
CAROS AMIGOS (AS), PUBLICAR UM LIVRO NO BRASIL É UMA TAREFA DEVERAS DIFÍCIL. EU MESMO PROCUREI AJUDA DE VÁRIOS ORGANISMOS PÚBLICOS E SÓ ENCONTREI PORTA NA CARA. POR ISSO, DECIDI PUBLICAR ESSE LIVRO PELA EDITORA PROTEXTO(WWW.PROTEXTO.COM.BR) DO MEU PRÓPRIO BOLSO. SE VOCÊ GOSTOU DO LIVRO E QUER ME AJUDAR A CONTINUAR ESSE TRABALHO, DEPOSITE, DE MANEIRA TOTALMENTE OPCIONAL, QUALQUER QUANTIA NA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, AG.218-OP 013 - CONTA: 815157 - DÍGITO 9. UM FORTE ABRAÇO, BOA LEITURA E ATÉ A PRÓXIMA!!!!!
Assinar:
Postagens (Atom)